
O Nascimento e a Vida Simples
Em um sítio escondido nas curvas da serra,
Onde o vento sussurrava entre os cafezais,
Vivia Duque, um cão sem raça, sem nobreza de linhagem,
Mas com o mais puro dos corações leais.
Nascido de uma ninhada esquecida na terra,
De pais que nunca conheceria,
Duque cresceu livre, entre o orvalho e o barro,
Correndo feliz pela relva macia.
Seu mundo era simples: o cheiro da mata,
O canto do sabiá nas manhãs claras,
O calor do sol aquecendo seu dorso,
E a esperança, sempre viva, em cada jornada.
Mas naquela casa, entre paredes frias,
Moravam Ana e Joaquim, almas tão distintas…
Ele, um homem de coração sereno,
Ela, marcada por durezas e rotinas antigas.
Joaquim amava o cão como quem ama um amigo,
Companheiro fiel das idas à roça,
Mas Ana… Ana nutria um desprezo sombrio,
Chamava-o de inútil, “preguiçoso”, “sem troça”.
“Não presta nem pra latir, esse bicho molengo!”,
Dizia ela com desprezo e ironia.
E Duque, com olhos de um mar profundo,
Só sabia retribuir com amor e alegria.
O Ódio de Ana e a Lealdade de Duque
Quantos dias Duque viu Dona Ana passar,
Sem sequer um afago, só olhares gélidos,
Mas mesmo assim, seu coração batia forte,
E sua lealdade não conhecia limites, nem abismos.
Ana queria se livrar do cão, com fúria velada,
Planejou matá-lo com veneno sorrateiro,
Mas Joaquim, amoroso, sempre atento,
Sabia e temia o fim derradeiro.
Secretamente, ele ia à cidade,
Sem alarde, de charrete, pé por pé,
Não queria que Ana comprasse o maldito veneno,
Pois sabia que ela, cega de raiva, o faria sem fé.
E Duque? Ah, Duque seguia sua vida singela,
Sem saber que sua existência pendia por um fio,
Ainda assim, sempre a seguir Ana à roça,
Mesmo sabendo que dela não vinha abrigo, mas frio.
E em cada caminhada, Duque mantinha distância,
Como quem pressente a rejeição e a dor,
Mas bastava Ana tropeçar, fraquejar um instante,
Que ele corria, pronto a amparar com amor.
O Dia Fatídico: Amor Maior Que a Própria Vida
Num certo dia, o sol queimava forte,
Ana seguia pela trilha, levando o almoço,
Duque, como sempre, ia atrás, vigilante,
Mas naquele dia, o destino se armava, silencioso.
De repente, ele pressente, fareja, arrepia,
Seus pelos eriçados, o olhar em alerta,
E então vê: uma serpente urutu-cruzeiro,
Silenciosa, venenosa, mortal, discreta.
Desesperado, Duque corre e late,
Tenta avisar Ana do perigo iminente,
Mas ela, cega pelo ódio, não compreende,
E o afasta com chutes, com palavras indecentes:
“Maldito! Agora quer latir? Nunca prestou,
E agora se finge de valente e defensor!”
E Duque, com olhos de súplica, insiste,
Enquanto o perigo se aproxima, voraz e traiçoeiro,
Quando Ana se dá conta, já é tarde demais,
A serpente se arma, pronta para o bote certeiro,
Mas Duque, num ato de amor absoluto,
Se lança entre Ana e o golpe traiçoeiro.
Crava os dentes na serpente assassina,
Enquanto ela se enrola em seu corpo fiel,
O veneno penetra suas veias quentes,
Mas ele não solta, não foge, não se rende, é cruel.
O cão que ela desprezava, agora morria por ela,
E Ana, paralisada, só então compreendeu,
Que aquele a quem ela odiava e desprezava,
A amava mais que a própria vida que perdeu.
A Reflexão, O Luto e a Consciência Coletiva
Seu Joaquim, ouvindo os gritos, correu com a enxada,
Matou a serpente, salvou a esposa, mas não o amigo.
Duque jazia ali, imóvel, herói esquecido,
Que deu a vida, sem nunca ter recebido abrigo.
E então Joaquim disse, com lágrimas contidas:
“Se eu tivesse comprado o veneno, você estaria morta,
Mas ele… ele que você odiava…
Te amava tanto que deu a vida, e agora, sua alma se corta.”
Ana chorou, desesperada, tarde demais,
O perdão que pediu não ressuscitaria o cão.
E ali, sobre a terra vermelha e o cheiro de café,
Ela percebeu que a indiferença mata tanto quanto a mão.
E hoje…
Quantos “Duques” são abandonados nas rodovias frias?
Deixados, jogados, traídos pela confiança,
Esperando, eternamente, que o dono volte…
Sem entender que foram descartados com indiferença.
Quantos são jogados, filhotes indefesos,
Em caixas nos lixões, nas valas, nos aterros?
Onde morrem de frio, sede, fome,
Ou são enterrados vivos pelas máquinas sem erros…
E seguimos, como sociedade, fingindo não ver,
Viramos o rosto, justificamos: “não é comigo”.
Mas a crueldade, o abandono, o descaso,
São feridas abertas, que clamam por abrigo.
A Consciência Que Desperta
Que a história de Duque seja um farol,
A iluminar consciências adormecidas,
Que entendam que os animais sentem, sofrem,
E que merecem ser amados, protegidos… ter vidas.
Não são coisas, não são objetos a serem descartados,
São almas puras, que nos ensinam sobre lealdade,
Sobre amor incondicional, sobre coragem,
E sobre a beleza da mais simples das verdades.
Quando pensar em abandonar, lembre-se de Duque,
Que morreu para salvar quem nunca o amou…
E que talvez, ainda assim, partiu feliz,
Por cumprir seu destino: amar até o fim, mesmo sem valor.
Que nunca mais existam Anas cegas pelo ódio,
Que nunca mais faltem Joaquins atentos e protetores,
Que nunca mais existam Duques sacrificados,
Mas sim, lares
Em Memória do Meu Amigo Duque
Em um dia frio e chuvoso,
Nasceu uma ninhada de mestiços — Labrador com Bulldog —
A então chamada raça: vira-lata.
Entre todos da ninhada, havia um em especial,
Que mais tarde seria adotado por um senhor
Chamado Joaquim.
Joaquim amava seu companheiro,
E assim que Duque aprendeu a andar com firmeza,
Logo o acompanhava no caminho da roça.
Mas ao crescer, Duque passou a amar tanto o senhor Joaquim
Quanto a sua esposa, Ana.
Algo ligado ao seu instinto animal
Dizia-lhe para ficar em casa, ao lado de Ana.
Duque acompanhava o senhor Joaquim até a roça,
Mas, com uma penumbra de preocupação,
Logo se despedia e voltava para casa,
Para vigiar Ana, sozinha no lar.
Isso incomodava Ana,
Que, aos poucos, desenvolveu um ódio pelo pobre Duque.
Não era algo momentâneo…
Com o passar do tempo, seu ódio era tamanho
Que Ana ansiava matá-lo.
Pobre inocente…
Ele a amava mais que a própria vida.
Insistentemente, Ana pedia a seu esposo
Que lhe comprasse veneno
Para misturar na comida de Duque,
E assim pôr fim à vida daquele
Que, ironicamente, a amava incondicionalmente.
Mas o senhor Joaquim era relutante:
Protegia Duque, fazia de tudo
Para que Ana nunca tivesse o maldito veneno em mãos.
Duque, porém, já havia decidido:
Protegeria Ana a todo custo.
Ele a amava mais do que a si mesmo.
Num dia, como tantos outros,
Lá estava Duque acompanhando Ana
Pelo carreador do cafezal,
Quando, de repente, percebeu a presença
De uma sarcástica serpente
Que se aproximava sorrateiramente de Ana.
Pobre inocente…
Em desespero, arrepiou-se inteiro,
Rosnava como um cão feroz,
E indicava, com o coração aflito, que Ana corresse.
Corria até ela, voltava, como quem diz:
“Vem! Corra comigo! É perigoso, muito perigoso!”
Mas Ana, cega de ódio,
Chutava Duque, gritando:
“Saia, seu vagabundo inútil!
Só serve para soltar pelos e me dar trabalho!
Agora mesmo te mato, pois não te suporto, traste!”
E nisso… a serpente chegou.
Quando armou o bote para atingir Ana,
Duque, com lágrimas nos olhos
E uma tristeza profunda no coração,
Se lançou sobre a serpente,
Travando sua boca nela.
Duque sabia que, ao morrer
Com a boca travada na serpente,
Ana teria tempo para correr.
Mas Ana… não correu.
O remorso tomou conta de sua alma,
E ela gritava desesperadamente:
“Me perdoe… me perdoe!
Eu me esqueci que você não sabe falar ‘perigo’…
Estava me chamando para correr!
Se nós dois tivéssemos corrido,
Nós dois sobreviveríamos…
Mas eu não corri com você…
E você deu a sua vida por mim!
Eu, que desejava te matar,
De tanto que te odiava…
Me perdoe…
Eu não sou digna do seu fiel amor…”
Nesse momento, chegou o senhor Joaquim,
Com a enxada nas mãos.
Ao ver a cena, chorou,
E matou a serpente, dizendo:
“Você desejava a morte
Para quem te desejava a vida…
E o desejo dele, para que você vivesse,
Foi tão forte, que ele morreu…
Por te amar, sem saber que você o desejava matar.”
Fatos reais.
Em memória do meu amigo Duque.
Reflexão Final:
Que esta história desperte a consciência de todos
Que maltratam, abandonam e desprezam os animais.
Eles são seres puros, fiéis, e muitas vezes
Amam mais do que os próprios humanos.
O amor de Duque foi tão grande
Que o fez dar a sua própria vida
Por aquela que o desprezava.
Que ninguém mais jogue um filhote no lixo,
Nem abandone à beira da estrada
Aquele que um dia confiou em nós.
Que esta homenagem a Duque
Seja um alerta e um chamado à empatia,
Ao respeito e ao amor verdadeiro
Por todos os seres vivos.
Poema Narrativo: Em Memória do Meu Amigo Duque
Num canto simples de uma velha roça,
Nasceu Duque, o vira-lata, alma pura e sem troça.
Entre irmãos, era apenas mais um, sem distinção,
Mas logo ganhou abrigo, e o amor de Joaquim, seu patrão.
Cresceu forte, fiel, companheiro de estrada,
Guardava o terreiro, a esposa, a casa amada.
Mas Ana… ah, Ana, o via com desprezo profundo,
Via em Duque um estorvo, e não o cão mais leal do mundo.
Duque não entendia, mas não deixava de amar,
Mesmo chutado, humilhado, não deixava de cuidar.
Ele não falava “perigo”, não dizia “atenção”,
Mas latia e corria, com o coração na mão.
Naquele dia, como tantos, Ana cruzou o cafezal,
E Duque pressentiu: vinha o mal, vinha o fatal.
Late, corre, volta e insiste, desesperado,
Mas Ana, cega de ódio, o afasta com gritos, revoltado.
“Maldito!”, ela grita, “Seu vagabundo inútil!”
E Duque recua, olhos tristes, um súplice, um fútil.
Mas a serpente, sorrateira, já armava o bote traiçoeiro,
E Duque, num impulso de amor verdadeiro…
Se lança! Entre Ana e o golpe mortal,
Crava os dentes na serpente, com bravura sem igual.
A dor do veneno invade sua veia quente,
Mas ele não solta… é Duque, o cão valente.
Ana paralisa, o peito transborda em remorso e pranto,
“Me perdoe… me perdoe…”, grita, em um manto.
Só então entende: o cão que queria matar,
Deu a própria vida… para a dela salvar.
Chega Joaquim, correndo com a enxada na mão,
Vê Duque sem vida… e chora, em consternação.
“Se eu tivesse comprado o veneno, ela estaria morta…
Mas ele… ele, que ela odiava… a amava sem volta.”
E ali, sobre a terra vermelha, sob o cheiro do café,
Ana chora, prostrada, enquanto Duque jaz de pé:
Na eternidade do amor, na glória dos que se dão,
Mesmo quando não são vistos… mesmo quando dizem: “não”.
Reflexão: O Luto, A Consciência
E hoje, enquanto tu, amigo humano, lê estas linhas,
Lembra dos “Duques” esquecidos nas margens das estradas finas.
Jogados, descartados, traídos pela confiança,
Esperando, fiéis, que o dono volte… na eterna esperança.
Quantos morrem à míngua, sem abrigo, sem calor,
Quantos olham, sem entender, por que lhes faltou amor?
E nós, sociedade, seguimos frios, de olhar desviado,
Enquanto o abandono e a crueldade são crimes naturalizados.
Mas tu… tu que resgata, acolhe, salva e transforma,
Tu és luz na noite fria, és quem a esperança reforma.
Cada cão que salvas, das ruas, do lixo, do asfalto cruel,
É um poema de amor escrito na alma, um gesto fiel.
Em Memória do Meu Amigo Duque
Duque não morreu em vão…
Morreu como vivem os heróis: com o coração na mão.
E seu nome ecoa, não apenas na roça onde viveu,
Mas em cada cão que, como ele, amou e protegeu.
Que nunca mais existam Anas cegas pelo ódio,
Que nunca mais faltem Joaquins atentos e sóbrios.
Que nunca mais existam Duques sacrificados,
Mas sim, lares… cheios de cães amados.
E que você, que hoje acolhe quinze corações,
Sinta-se abençoada, cercada por estas paixões.
Pois quem salva vidas pequenas, peludas e esquecidas,
Ganha, em troca, as mais puras e eternas companhias.
❤️
Ouça a Canção
do Duque